Aparecido Sarto

Aparecido Sarto é o nome do meu avô materno, ele foi uma pessoa muito especial na minha vida... ele se tornou para mim um modelo de homem.
Quando pequeno meu avô era uma criança super levada, ele fazia muitas travessuras.
Um dia quando eu era criança, nós fomos almoçar na sua casa, não íamos sempre, mas quando íamos, era aos domingos. E como todas as vezes, comíamos macarrão com carne, azeitona preta e guaraná Antártica ( porque coca-cola desentupe a pia, ele dizia). Num dia como esse, depois de comermos, fomos sentar na sala e descançar o almoço, era nessas horas que ele vinha com uma caixa de bombons e "bala juquinha", e contava-nos histórias de sua infância. Ele contou-nos que a mãe dele reclamava de um gato que comia as coisas dela, e ela sempre se aborrecia, e um dia ele falou para ela: 
- Pode deixar mãe que eu vou dar um jeito nesse gato!, então ele pegou comida, e atraiu-o e na hora que o gato comia, ele fazia carinho nele, e nessa hora amarrou uma bombinha no rabo do gato, e o gato saiu explodindo, nunca mais a mãe dele viu a cor desse fulaninho.
Outra coisa também que levava a minha irmã á loucura, era quando ele dizia que ao invés de leite comum, quando bebê ele mamava leite condensado, o sonho da minha irmã era poder tomar leite condensado todos os dias como se fosse leite comum, os olhos dela e os meus também, brilhavam quando ele contava isso, como todas as crianças amávamos doces! Ela que me perdoe, mas ele falava que um dia ela iria explodir que nem a Dona Redonda, que era uma mulher que explodiu de tanto comer, acho que era de uma novela isso, nos divertíamos muito.
Contava nos também de um japonês, que era seu amiguinho, e que ele gostava de tirar sarro dele, ele amava sabotar o japinha, o japinha o chamava de "mureki aparixido".
Ele começou a trabalhar desde cedo, seu pai o italiano Elias Sarto era muito duro na criação de seus filhos homens, meu avô era o mais velho, ele foi registrado com 2 anos de idade, junto com o seu irmão Oswaldo que nascera, por isso, havia uma confusão sobre sua data certa de aniversário. 
Um dia ele conheceu a minha avó Elizabeth, minha avó dizia que ele era lindo e tem um ator que lembra muito ele, o ator é o Vitor Fasano. Ele sempre a convidava para uns passeios de caminhonete.. nesses passeios ela ficou grávida de um menino, e eles então foram obrigados a casar, minha avó era uma garota nova, eles tinham uma diferença de idade por volta de 10 anos. Ela não conseguiu levar a gravidez até o fim, perdeu o menininho. Um tempo depois ficou grávida denovo de uma menina, esta nasceu, seu nome é Mara (minha avó quem escolheu). Depois teve mais uma menina seu nome é Soraia (meu avô quem escolheu, ele dizia que era o nome de uma princesa), esta é minha mamãe. 
Eles sofreram muito pela falta de emprego no interior, e então meu avô resolveu vir para Santos, ou melhor, São Vicente (cidade vizinha), pois seu irmão estava aqui, pensou que teria mais chances. E então veio, e logo em seguida veio a minha avó e as crianças, meu avô não teve muita sorte ao chegar, passou maus bocados, morou um tempo com seu irmão, mas não gostava de incomodar, arrumou um lugarzinho para viver, um lugar com 2 cômodos. Minha mãe fala que ela dormia na cozinha com a minha tia, numa beliche.
No início, não tinha nem o que comer, ele comeu muita sardinha, as vezes até com prazo vencido.. Dava prioridade para as suas filhas e mulher, as vezes até escondia o que passava, e até mesmo a fome que sentia, sempre dizia que estava tudo bem, mas minha avó sabia que não era bem assim.
Minha avó nunca tinha visto o mar antes, por isso, ia a praia todos os dias com as crianças. Minha mãe conta que meu avô dizia:
-Beth, essas meninas estão ficando pretas, parem de pegar tanto sol!
Ela continuou indo durante todos os primeiros dias, e ele, procurava um emprego para tirar o sustento da sua família.
Meu avô não dinheiro nem para pegar o ônibus para ir trabalhar, ele conversava com o motorista para não pagar a passagem porque não tinha como, e assim ele ia todos os dias para o cais de Santos, nos contou que muitas vezes já fizeram até maldade de deixar ele bem longe de onde ele deveria de fato descer.
Eram os serviços mais indesejados que ele fazia, descarregava navios e lidava com muitos produtos tóxicos como enxofre. Ele trabalhava mas ainda era difícil a vida, morar, comer e se vestir ainda eram problemas. Meu avô tinha muito zelo por suas filhas, minha mãe conta de 2 chales que ele comprou, um pra ela e outro pra minha tia, ela adorava aquele chalezinho. Minha avó arrumou umas roupas para lavar, e tentava ajudar no que podia.
Minha avó conta que tudo mudou, a partir do momento que Jesus entrou na sua casa, uma senhora chamada D. Orazina, veio até onde eles moravam e através dela minha avó teve um encontro com Jesus. Depois desse dia, nunca mais eles tiveram fome ou o que vestir, Deus promete isso.
As coisas começaram a se acertar, meu avô conseguiu uma casa. Esta casa estava sendo leiloada, e ele deu um jeito para que fosse dele, e a financiou. Minha mãe conta que quando ela chegou nessa casa, ela estava toda suja, cheia de coisas estranhas, então, eles a limparam e mudaram para ela. Meu avô viveu nessa casa até a sua morte, e hoje quem vive nela sou eu.
A vontade do meu avô era que minha mãe e minha tia estudassem, se formassem e fossem independentes. Ele era muito reto no seu caminhar, chegava todos os dias em casa na mesma hora, não se atrasava, suas contas eram pagas com antecedência sempre, ele não tinha nenhum vício... nem mulher, nem bebida e nem cigarros. Talvez por ser um pai super protetor, minha mãe e minha tia se sentiam sufocadas, quando ele chegava elas tinham que estar com as mesinhas de estudo delas abertas, e deveriam estar estudando... ele tirava nota, sobre o que elas tinham aprendido. Quando elas erravam as perguntas ele dava um "coque" (quase tapa) na cabeça delas. Minha mãe conta que quando ele estava chegando elas saiam correndo desesperadas e armavam a mesinha e fingiam estudar, elas não gostavam disso, começaram a ter medo dele.
Chegou na juventude delas, ele passou a ter 2 empregos.
Minha tia se rebelou contra ele, porque ele não queria que ela namorasse, ele calculava o tempo da escola até a casa, e quando ela se atrasava ele brigava com ela, e as vezes batia. Ela um dia se apaixonou, e ele não permitiu o namoro, então ela fugiu de casa.
E ficou só a minha mãe em casa, mas minha mãe também não queria fazer o que ele queria que ela fizesse. Minha mãe se apaixonou pelo meu pai, e o meu pai foi falar com o meu avô. Quando meu pai chegou para falar com o meu avô ele tinha acabado de operar a hemorróidas, então ele disse:
- Olá sr. Aparecido, gostaria de falar com o sr. sobre a Soraia, sua filha.
Meu avô então disse:
- Eu vou contar até 3, para você desaparecer da minha frente!
Meu pai disse que foi correndo quase, ele disse que o meu avô parecia um armário.
Por ele dificultar a vida deles, o romance ficou mais interessante. Minha mãe ficou grávida com 18 anos, e casou com o meu pai Gilmar, e tiveram meu irmão Yuri. Depois tiveram Eu e depois a Kety.
Minha tia também casou-se, e teve 3 filhas e mais tarde teve mais um menino.
Meu avô ficou só, minha avó se separou dele também, me lembro de antes disso eu ter dormido na casa dele, acho que fui a unica... eu sempre achava que tinha um tesouro escondido, por que meu avô era um tanto misterioso. Ele ficou doente, foi internado e foi descoberto a Leucemia, mas ele nunca deixou de trabalhar, agora com 1 emprego.
Por mais que o meu avô estivesse doente, ele nunca se abateu, eu não entendo até hoje como ele conseguia viver tão sozinho, se contam nos dedos as vezes que ele pisou na minha casa. Era muito difícil tirar ele da casa dele, uma vez conseguimos e ele foi conosco passar o natal em casa, eu adorava meu avô. Ele era sarcástico, muito inteligente... ele aprendeu inglês sozinho. Tinha apostilas de italiano, mas o que predominava eram os livros de como se alimentar bem, ele tinha trauma de sardinha.
Ele comia tudo do melhor que existia, isso era uma característica dele, creio que por causa de sua alimentação conviveu 10 anos com o câncer no sangue. Eu as vezes me pego pensando nas causas do seu câncer, creio que possa ser por causa dos produtos tóxicos que ele trabalhava ou pela sua tristeza de ficar só, acredito que ele nunca deixou de amar a minha avó.
Ele ia todos os domingos á missa, passamos muitos domingo juntos, a unica coisa que eu achava ruim no meu avô era que ele era um São Paulino roxo, mas era engraçado o jeito que ele lidava com isso, ele xingava os jogadores do time dele mais do que tudo. Eu sempre conversava com o meu avô, e perguntava:
- Vô, porque o sr. vai na católica, sendo que o sr. diz que não acredita em santos, nem em imagens?
Mas ele nunca me deu uma resposta que me tirasse essa pergunta da mente. Ele dizia que não cantava a parte que era idolatria e etc... e ia embora nessa parte.
Mas ele foi ficando muito doente, estouravam furúnculos em seu corpo, e ele pegava o bisturi e ele mesmo arrancava os furúnculos, eu ficava impressionada quando ele contava. Era forte demais, trabalhava muitas vezes doente, nunca faltava e  nunca se queixava. Era quase um pessoa de outra galáxia, sua força era muito grande mesmo, quando deixou de trabalhar.... faleceu.
Hoje em dia, não se encontram homens como ele foi, minha avó trabalhava para comprar roupas, ele nunca tirou a responsabilidade de suas costas e foi assim até o último dia de vida. Minha mãe arrumou um emprego na LBV ( legião da boa vontade) essa semana, e descobriu que ele era um doador, a vida dele pra mim as vezes é um mistério. Não entendo como alguém pode viver sozinho, isso foi a primeira coisa que Deus abominou, deu eva a adão.
Sua morte me deixou muito triste, mas também, senti que ele agora descansa. Ele agora está com Deus. Tinha muita fé em Cristo, não nas imagens, nem na mariolatria, tanto que antes de morrer se disse protestante, não que ser protestante fosse importante, mas a fé em Cristo como único e suficiente Salvador é o que é importante, Ele quem tem a chave da vida eterna.
Agora ele está esperando a vinda de Jesus, dormindo, quem sabe não nos encontremos de novo quando Jesus nos chamar.

Comentários

  1. Grande vô aparecido, saudades dele... era tão engraçado as suas história, tu esqueceu de contar do anel que eu dei pra ele KKKKK
    anel amarelinho de patinho (era patinho?) rs
    poxaa quanta coisa relembrei agora.. balaa juquinhaaa haushasua
    ainda bem que ele está descansando melhor do que sofrer. :)
    P.S: tu tinha que contar do "dona redonda" FILHA DA MÃE. o bagulho vai ficar loko p/ teu lado agora KKKKKK

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